quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dá que pensar



Emigrantes passam férias em Portugal, mas não pensam regressar
De férias em Portugal, os portugueses que residem no estrangeiro temem os preços altos trazem o objectivo de gastar o menos possível, num país onde se vive pior do que naqueles que eles escolheram para trabalhar e agora ainda mais por causa da crise, como relataram à Agência Lusa.
O fim-de-semana que marcou o início da segunda quinzena de Agosto foi de partidas e chegadas em Vilar Formoso, porta de entrada que recebe nesta altura do ano milhares de emigrantes, que enchem os depósitos no último posto de combustível espanhol e param no primeiro café em Portugal.
Jorge e Cristina Serra vivem com a filha Matilde nos arredores de Paris, onde todos nasceram, e preparam-se para visitar os dois lados da família, na Figueira da Foz e em Pinhel. “Vamos tentar gastar menos e, desta feita, não vamos para o Algarve para podemos jantar mais vezes fora”, revelou Jorge Serra, consciente “dos altos preços dos combustíveis e dos baixos salários em Portugal”.
“A classe média e a baixa também está a sofrer em França”, afirmo Jorge Serra, que é funcionário de uma empresa de telecomunicações móveis. A mulher trabalha numa pequena empresa de software. O casal não pensa trocar França por Portugal, porque lá há melhores condições de vida e um sistema de saúde mais eficiente.
Já de férias em Portugal, Abel Silva, 54 anos, que há 19 trocou uma pequena aldeia da freguesia de São Mamede, no concelho da Batalha, pelo Canadá, sente que “tudo melhorou um pouco” em Portugal, mas “continua a ganhar-se mal”. “Ganha-se pouco e as coisas estão caras”, constatou, acrescentando que “todas as pessoas se queixam”, uma situação que atribui à crise.
Abel Silva adiantou que, embora “as pessoas tentem poupar alguma coisa”, a crise é um impedimento. Quanto a um hipotético regresso a Portugal, o emigrante não tem dúvidas: “Com a minha idade não é fácil arranjar emprego”. Por isso, adia para uma idade mais próxima da reforma a possibilidade de refazer a vida em Portugal. Idêntica opinião tem Sérgio Crespo, para quem “neste momento, não há nada a esperar de Portugal”. O português de 30 anos, residente há dois anos em Reading, Inglaterra, diz que não vê perspectivas de melhoras da economia portuguesa porque “depende muito de outros países”.

Salários baixos afastam regresso
Os emigrantes também apontam os baixos salários, o baixo padrão de vida em relação aos outros países da Europa, a falta de estrutura dos serviços básicos fornecidos pelo Estado, sobretudo na área da saúde, e o baixo valor das reformas como alguns factores para continuarem a trabalhar no estrangeiro.
“Os ordenados são muito baixos (em Portugal) e passei seis anos sem receber um aumento, a trabalhar para o Estado português”, declarou Crespo, natural do Cartaxo e que trabalha em Inglaterra como administrador de sistemas informáticos. “O nível de vida é definitivamente diferente, muito melhor, mas custa-nos estar longe do nosso país”, referiu ainda Crespo, que está em permanente contacto com as notícias de Portugal através da internet. Para a sua mulher, Paula Vaz, 27 anos, também natural do Cartaxo, existem muitas facilidades para as pessoas em Inglaterra, “além do serviço de saúde e do sistema de serviços do Estado em geral serem muito melhores” do que em Portugal. “Em Portugal, as coisas demoram muito tempo a acontecer. Em Inglaterra, tudo é resolvido rapidamente, disse Paula Vaz, que trabalha como recepcionista num ginásio. O casal não pretende retornar a Portugal tão cedo e vem ao país “apenas para passar férias”. Maria Gouveia, residente há mais de 30 anos na Alemanha, também acreditam que a situação económica de Portugal continua a não ser das melhores. “Pelo que nós vemos nos noticiários portugueses da televisão, está tudo muito difícil, tudo está mais caro. A situação económica do país está pior”, indicou Ana Maria Gouveia, natural de Seia e que mora há 35 anos em Nuremberga. “A assistência médica é muito melhor na Alemanha. O padrão de vida lá é muito melhor”, referiu Ana Maria Gouveia, 60 anos, que trabalha numa fábrica de munições e vem todos os anos passar férias a Portugal. Mas ao contrário do casal de Inglaterra, Ana Maria planeia voltar assim que se reformar. “Vou reformar-me daqui há três anos e volto para Portugal, mas, se não tivesse essa reforma garantida, ficava na Alemanha”, finalizou Ana Maria Gouveia.


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